JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA QUEM PRECISA

Jd. Botânico - sombras das árvoresCapão Redondo, São Paulo. Lugar de abundância de gente, de cores, de carros e ônibus, de casas e crianças indo pra escola, casas empilhadas, tijolos, sonhos e necessidades. As estratégias para realizá-los são inúmeras, assim como também os seus desdobramentos.

São 8 horas. Metrô e trem continuam cheios para todas as direções da cidade, como um pequeno nodo de uma grande trama paulistana. No meio destas multidões, dentro da minha leitura da cidade, um grupo de cerca de 40 pessoas vai se destacando, na medida em que se dirige à região para um conjunto de aulas na Espere – Escola de Perdão e Conciliação – preparatórias a um curso mais extenso depois sobre Justiça Restaurativa, que ocorrerá em duas turmas nos dias 21 ou 23 de março próximo. Tudo isto dentro do grande guarda-chuva de atividades do Cdhep – Centro de direitos humanos e educação popular, que tem como objetivo formar e articular sujeitos sociais e processos políticos atuando na construção de uma sociedade justa e solidária de pleno exercício da cidadania, à luz dos princípios fundamentais dos Direitos Humanos, sociais, econômicos, culturais e ambientais.

Vindos de várias localidades do entorno de Capão Redondo, como também de outras regiões da cidade, e até de Fortaleza, Ceará, em cinco dias deste curso preliminar, foi possível a este grupo rever sua visão particular e os impactos em perspectiva da dor que se sente ao deixar de lado uma questão, uma dúvida, um pronunciamento sobre a vida sem o devido tratamento.

Olhar para mágoas antigas, para esta dor e exercitar de diversas formas um olhar às vezes de ternura e acolhimento, às vezes de responsabilidade para com seus diversos ângulos – alguns maldosos e perversos – foi fundamental para que conseguíssemos nos preparar para abordar a dor de outras pessoas e, realmente, nos colocarmos em seu lugar pela empatia de ter vivido dores semelhantes.

A metodologia da escola permite que a generosidade guie o olhar sobre delicadas tramas do humano em cada um dos participantes. A partir deste espaço de confiança tudo é possível, pois esta talvez seja a matéria-prima mais fundamental para um trabalho desta natureza: o espaço confiável para depositar em seu centro o que há de mais sensível em nós. Tudo associado com o devido contexto técnico e teórico, mas enfatizando a vivência destas informações e a sua associação à reverberação na vida.

Ter participado deste curso sob esta ótica, me permitiu adentrar um espaço de experimentação em outros níveis, às vezes não disponível em cursos em que o conteúdo é riquíssimo, mas que deixa para cada pessoa a reverberação dos seus enunciados.

Presentes representantes de organizações que lidam com crianças abandonadas pelos pais biológicos, que trabalham com crianças e adolescentes como a Casa do Zezinho, diretores e educadores de diversas instituições de ensino, religiosos como o representante do Ceará, que trabalha com população carcerária eram alguns dos profissionais que puderam, primeiramente, olhar para sua própria experiência com a dor e revisitá-la, acolhê-la, compartilhá-la, de tantos diversos ângulos que o aprendizado foi apropriado com a própria vida.

Agora começa o curso propriamente dito de Justiça Restaurativa para uma turma dia 21 e outra 23 de março, próximos.

A música do grupo Titãs fala de “polícia para quem precisa”. O Cdhep diz que é a “justiça restaurativa para quem precisa” e vai até nossos corações para atingir seu objetivo.

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